Confira abaixo uma cronologia histórica com os acontecimentos mais importantes na defesa dos animais, do veganismo e do antiespecismo.
- História da defesa dos animais no mundo
- História da defesa dos animais no Brasil
- História da compaixão e da evitação do sofrimento como valor moral
- Bibliografia sobre a história da defesa dos animais
História da defesa dos animais no mundo
5 séculos a.C.: Líderes de religiões orientais como Mahavira (Jainismo) e Buda (Budismo) defendem o respeito aos animais.
580 a.C.: Pitágoras declara o vegetarianismo. Para ele isso era uma prática de autocontrole com objetivo de atingir um estado espiritual mais elevado. No caso dele, sua crença na reencarnação e na transmigração das almas influenciou este compromisso.
Séc III.: O filósofo Porfírio defende a ética e a religiosidade do vegetarianismo no tratado “On Abstinence from Killing Animals“.
ap. 1000: O filósofo e poeta árabe al-Ma’arri se opôs ao consumo de todos os produtos de origem animal no seu texto “I No Longer Steal From Nature“.
1776: Humphry Primatt escreve “A Dissertation On the Duty of Mercy and Sin of Cruelty to Brute Animals” e argumenta que os seres humanos têm uma obrigação moral de mostrar misericórdia e compaixão para com os animais, porque eles também sofrem, em vez de praticar crueldade contra eles.
1789: Jeremy Bentham escreve “The Principles of Morals and Legislation”, onde defende que o que é relevante para consideração moral é a capacidade de sofrer.
1843: Membros da Alcott House, liderados por Sophia Chichester, criam a Sociedade Britânica e Estrangeira para a Promoção da Humanidade e Abstinência de Alimentos Animais.
1847: Alcott House ajuda a estabelecer a Sociedade Vegetariana do Reino Unido, que realiza sua primeira reunião.
1945: Donald Watson e seus amigos fundam na Inglaterra a primeira organização vegana do mundo, que eles chamaram de “The Vegan Society”.
1964: Ruth Harrison escreve a obra “Animal Machines”, expondo os bastidores da exploração.
1965: Inspirada pela obra Animal Machines, Brigid Brophy publica um artigo no Sunday Times, chamado “The Rights of Animals”.
1970: Nessa década é formado o que posteriormente foi chamado de Grupo de Oxford, ou Vegetarianos de Oxford, por diversos intelectuais como Stanley Godlovitch, Roslind Godlovitch, John Harris, David Wood, Michael Peters, Ruth Harrison, Brigid Brophy, Michael Joseph, Victor Goillancz, Giles Gordon, Richard D. Ryder, Stephen R. L. Clark, Andrew Linzey, Colin McGinn, Peter Singer, David Wood e Jon Wynne-Tyson. Ambos defenderam moralmente os animais.
1971: Stanley Godlovitch, Rosalind Godlovitch e John Harris publicam “Animals, Men and Morals”.
1975: O filósofo utilitarista Peter Singer publica o livro “Animal Liberation”, o livro com maior impacto na defesa dos animais.
1975: O psicólogo Richard D. Ryder publica “Victims of Science”.
1976: Andrew Linzey lança o livro “Animal Rights: A Christian Perspective”; Tom Regan e Peter Singer lançam o livro “Animal Rights and Human Obligations”.
1977: Stephen Clark lança o livro “The Moral Status of Animals”.
1978: Michael W. Fox e Richard Knowles publicam “On The Fifth Day: Animal Rights and Human Ethics”.
1979: Peter Singer lança o livro “Pratical Ethics” e David Paterson e Richard Ryder lançam o livro “Animal Rights: A Symposium”.
1980: A obra de Henry Salt lançada em 1984, “Animal Rights” é reeditada. Charles Magel publica “A Bibliography on Animal Rights and Related Matters”, considerada na época a melhor bibliografia sobre o assunto.
1981: Bernard Rollin publica o livro “Animal Rights and Human Morality”. Peter Singer, em “The Expanding Circle, defende que o único ponto de parada justificável para expansão do altruísmo é o ponto em que todos aqueles cujo bem-estar pode ser afetado por nossas ações são incluídos dentro do círculo do altruísmo.
1983: Tom Regan publica o livro “The Case for Animal Rights” e Mary Midgley publica o livro “Animals And Why They Matter”.
1987: Steve Sapontzis publica o livro “Morals, Reason, and Animals” e Rosalind Hursthouse publica o livro “Beginning Lives”.
1990: James Rachels publica o livro “Created from Animals: The Moral Implications of Darwinism”.
1994: A filósofa italiana Paola Cavalieri edita com Peter Singer, “The Great Ape Project: Equality Beyond Humanity”.
1995: Carol Adams e Josephine Donovan lançam o livro “Animals and Women: Feminist Theoretical Explorations”. Evelyn Pluhar publica o livro “Beyond Prejudice: The Moral Significant of Human and Nonhuman Animals”.
1996: David De Grazia publica “Tanking Animals Seriously: Mental Life and Moral Status” e Gary L. Francione publica o livro “Rain Without Thunder: The Ideology of The Animal Rights Movement”.
2000: Gary Francione publica o livro “Introduction to Animal Rights” e Rosalind Hursthouse publica as obras “On Virtue Ethics” e “Ethics, Humans and Other Animals”.
2005: O documentário “Earthlings”, narrado por Joaquin Phoenix, é lançado, expondo as práticas cruéis da indústria de alimentos e entretenimento envolvendo animais.
2009: A. Breeze Harper lança o livro “Sistah Vegan: Black Female Vegans Speak on Food, Identity, Health, and Society”.
2010: Alasdair Cochrane publica o livro “An Introduction to Animals and Political Theory”.
2012: É lançada a Declaração de Cambridge sobre a Consciência Animal.
2018: O documentário “Dominion”, narrado por diversas celebridades, é lançado, expondo as práticas cruéis da indústria de alimentos e entretenimento envolvendo animais.
2018: Jacy Reese lança o livro “The End of Animal Farming”.
2020: Durante a pandemia de COVID-19, surgem preocupações sobre a exploração de animais em fazendas industriais e o potencial papel dessas fazendas na disseminação de doenças zoonóticas, levando a um debate sobre a necessidade de mudanças na agricultura e na alimentação.
2022: Mais de 550 pesquisadores e estudiosos em filosofia moral e política de mais de 40 países lançam e endossam a “Declaração de Montreal sobre a Exploração Animal“, onde declaram que a exploração animal é injusta e moralmente inaceitável.
2024: Mais de 40 especialistas de renome mundial em cognição e filosofia da mente se reuniram em Nova York para assinar a Declaração de Nova York sobre a Consciência Animal, que afirmam uma “possibilidade realista” de consciência em todos os vertebrados, além de invertebrados como insetos e moluscos. Eles também dizem que “quando existe uma possibilidade realista de experiência consciente num animal, é irresponsável ignorar essa possibilidade nas decisões que afetam esse animal.”
História da defesa dos animais no Brasil
1983: A socióloga Marly Winckler escreve o livro “Vegetarianismo: Elementos para uma conversa sobre” e lança o site “Sitio Vegetariano”, a primeira página sobre vegetarianismo em português no mundo.
1993: Parte do movimento Straight Edge, no meio punk-hardcore, adere ao vegetarianismo-veganismo. O Verdurada se tornam principal evento da cena no país.
2003: É fundada a ONG Sociedade Vegetariana Brasileira pela socióloga Marly Winkler.
2006: Instituto Nina Rosa lança o documentário “A Carne É Fraca”.
2006: O filósofo Carlos Naconecy lança o livro “Ética & Animais: Um Guia de Argumentação Filosófica”.
2007: É fundado o Portal Vista-se pelo ativista Fabio Chaves.
2009: É formalizada a ONG VEDDAS – Vegetarianismo Ético, Defesa dos Direitos Animais e Sociedade, criada por George Guimarães.
2013: Ativistas salvam Beagles que serviriam de experimentos científicos no Instituto Royale.
2015: A ONG internacional Mercy For Animals é trazida ao Brasil pelo ativista Lucas Alvarenga.
2016: Após um acidente, porcos vivos que estavam sendo transportados para o abatedouro ficam agonizando e ganham espaço na mídia. Ativistas se mobilizam para salvá-los.
2021: Mais de 300 búfalos são encontrados abandonados e passando fome em uma fazenda com 500 alqueires na cidade de Brotas. Ativistas se mobilizam.
2022: O filósofo Luciano Carlos Cunha lança o livro “O Sofrimento dos Animais Selvagens e suas Implicações Éticas”, expandido a defesa dos animais para além do veganismo.
História da compaixão e da evitação do sofrimento como valor moral
Hinário Rigveda (entre 1500 e 1200 a.C.): O Hinário Rigveda, uma das escrituras mais antigas do hinduísmo, contém versículos que expressam a ideia de compaixão e não-violência como valores morais. Por exemplo: “Que todos os seres sejam felizes; que todos os seres sejam sem doença. Que ninguém sofra no mundo.”
Buda (c. 563-483 a.C.): O Buda, fundador do budismo, enfatizou a compaixão como parte essencial do caminho espiritual. Ele disse: “A compaixão por todos os seres é necessária, independente da fé religiosa que professamos.”
Sócrates (c. 469-399 a.C.): O filósofo grego Sócrates acreditava que a compreensão do sofrimento dos outros era fundamental para o desenvolvimento moral. Ele afirmava: “Uma vida sem exame não vale a pena ser vivida.”
Aristóteles (c. 384-322 a.C.): Aristóteles, outro filósofo grego, discutiu a importância da compaixão em sua Ética Nicomáquea, argumentando que a virtude está no meio-termo entre o excesso e a falta de compaixão.
Jesus Cristo (primeiro século d.C.): No Sermão da Montanha, parte importante do ensinamento de Jesus Cristo no cristianismo, ele enfatiza a compaixão e a empatia, dizendo: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia.”
Confúcio (551-479 a.C.): O filósofo chinês Confúcio também enfatizou a compaixão e a empatia em sua filosofia, ensinando que devemos tratar os outros com bondade e consideração.
Maimônides (1135-1204): O filósofo judeu medieval Maimônides escreveu sobre a importância da caridade e da compaixão em seu trabalho “Mishneh Torah” e enfatizou a obrigação de ajudar os necessitados.
Iluminismo e Modernidade (1680 em diante): Com o advento da filosofia iluminista e a ascensão da ciência moderna, houve uma tendência a ver o sofrimento como algo que poderia ser compreendido, evitado ou aliviado através do conhecimento e da tecnologia. A medicina moderna, por exemplo, buscou formas de aliviar o sofrimento humano através do tratamento de doenças e lesões.
Immanuel Kant (1724-1804): O filósofo alemão Immanuel Kant desenvolveu uma ética baseada na razão e na moralidade universal. Ele argumentou que agir com compaixão e benevolência era um imperativo moral.
Humphry Primatt (1736-1771): O clérigo e autor britânico Humphry Primatt escreveu “A Dissertation on the Duty of Mercy and Sin of Cruelty to Brute Animals” em 1776, argumentando a favor da compaixão e da consideração pelos animais como uma obrigação moral.
Jeremy Bentham (1748-1832): O filósofo e jurista britânico Jeremy Bentham é conhecido por desenvolver a teoria utilitarista, que enfatiza o princípio da utilidade, buscando maximizar a felicidade e minimizar o sofrimento. Sua ética utilitarista incorpora a compaixão como um componente importante na tomada de decisões éticas.
Arthur Schopenhauer (1788-1860): A frase “A compaixão é a base da moralidade” é frequentemente atribuída ao filósofo alemão Arthur Schopenhauer. Ele discutiu a importância da compaixão em sua obra principal, “O Mundo como Vontade e Representação” (Die Welt als Wille und Vorstellung), publicada pela primeira vez em 1818. Schopenhauer argumentou que a compaixão é a base moral porque ela nos leva a entender e simpatizar com o sofrimento dos outros, levando-nos a agir de maneira ética e compassiva em nossas interações com os outros seres humanos.
John Stuart Mill (1806-1873): John Stuart Mill, um dos principais filósofos liberais-utilitaristas, desenvolveu a teoria ética do utilitarismo em sua obra “Utilitarianism” (1863). Ele argumentou que a moralidade deveria buscar o maior bem para o maior número, enfatizando a importância da felicidade e do alívio do sofrimento como objetivos éticos.
Charles Darwin (1809-1882): O trabalho de Charles Darwin na teoria da evolução enfatizou a ligação evolutiva entre os seres humanos e outras espécies, influenciando a ideia de compaixão em relação à natureza e aos seres vivos.
Henry Sidgwick (1838-1900): Henry Sidgwick, um filósofo britânico e autor de “The Methods of Ethics” (1874), também contribuiu para a ética utilitarista. Ele explorou questões éticas relacionadas à compaixão, altruismo e busca pela felicidade geral.
Albert Schweitzer (1875-1965): O filósofo, teólogo e médico suíço Albert Schweitzer promoveu o conceito de “Reverência pela Vida” (Ehrfurcht vor dem Leben), que enfatiza a compaixão e o respeito por todas as formas de vida como um dever moral.
R.M. Hare (1919-2002): O filósofo britânico R.M. Hare desenvolveu uma forma de ética utilitarista conhecida como “utilitarismo de dois níveis.” Em suas obras, como “The Language of Morals” (1952), ele abordou a importância da compaixão e da consideração dos interesses dos outros nas decisões éticas.
Peter Singer (nascido em 1946): O filósofo australiano Peter Singer é conhecido por suas contribuições à ética prática e à filosofia moral. Ele argumenta a favor da consideração moral dos interesses dos animais não humanos e promove o vegetarianismo e o altruísmo eficaz como formas de manifestar compaixão e ética.
Yuval Noah Harari (nascido em 1976): O historiador Yuval Harari, lança sua maior obra em 2014, o best-seller Sapiens: Uma breve história da humanidade, onde tem um capítulo dedicado a confrontar a exploração animal.
Bibliografia sobre a história da defesa dos animais
| Nome | Ano da 1ª Edição | Autor(es) |
| A Bibliography on Animal Rights and Related Matters | 1981 | Charles R. Magel |
| Keyguide to Information Sources in Animal Rights | 1987 | Charles R. Magel |
| Encyclopedia of Animal Rights and Animal Welfare | 1998 | Marc Bekoff; Carron A. Meaney |
| Animal Rights: Political and Social Change in Britain Since 1800 | 1998 | Hilda Kean |
| Animal Rights: History and Scope of a Radical Social Movement | 1998 | Harold D. Guither |
| Ethical Vegetarianism: From Pythagoras to Peter Singer | 1999 | Kerry S Walters; Lisa Portmess |
| Animal Rights: A Subject Guide, Bibliography, and Internet Companion | 2000 | John M. Kistler |
| Animal Rights: A Historical Anthology | 2005 | Andrew Linzey; Paul Barry Clarke |
| Sins of the Flesh: A History of Ethical Vegetarian Thought | 2008 | Rod Preece |
| Women and the Animal Rights Movement | 2011 | Emily Gaarder |
| A History of the Animal Rights Movement | 2016 | Amanda D. West |
| Vegetarianism and Veganism: A Reference Handbook | 2019 | David Newton |

