A exploração animal para alimentação é um tema de grande relevância e impacto em nosso mundo contemporâneo. Neste post, apresentaremos 10 fatos rápidos que ilustram a complexidade desse cenário, abordando questões relacionadas à produção de carne, laticínios e outros produtos de origem animal, bem como os desafios que isso representa para a sociedade, o bem-estar dos animais e o meio ambiente. Confira abaixo como nossos hábitos alimentares estão ligados a questões cruciais que merecem atenção e reflexão.
- 1. Há um claro conflito de interesses entre a exploração animal para alimentação e o bem-estar dos animais
- 2. Mais de 90% dos mamíferos e aves animais criados para comida estão em fazendas industriais
- 3. Sistemas de exploração animal extensivos também são problemáticos
- 4. A exploração animal apresenta riscos significativos tanto para a saúde humana quanto para a saúde dos próprios animais
- 5. Criar mamíferos e aves em larga escala é uma forma ineficiente de alimentar humanos e contribui para a insegurança alimentar global
- 6. A exploração de animais é uma das principais causas da destruição ambiental
- 7. A exploração de animais também prejudica animais incomuns
- 8. São explorados e mortos diretamente entre 70 e 100 bilhões de mamíferos e aves para consumo humano no ano
- 9. São explorados e mortos diretamente entre 8 e 70,1 trilhões de peixes e animais aquáticos para consumo no ano
- 10. São explorados e mortos diretamente entre 8,4 e 26 trilhões de insetos para consumo no ano
1. Há um claro conflito de interesses entre a exploração animal para alimentação e o bem-estar dos animais
Todos os animais vertebrados são seres sencientes, isto é, são alguém e não algo, são prejudicados com sofrimento e beneficiados com bem-estar e prazer. Eles buscam sobrevivência e bem-estar. Numa visão antropocêntrica do mundo os animais são frequentemente vistos como meios para fins humanos, commodities, não como indivíduos valiosos em si. Com o prazer dos humanos colocados como mais importantes do que a vida dos animais, o aumento do consumo e a maximização dos lucros levam à negligência das necessidades físicas e psicológicas dos animais, fazendo com que tenham vidas curtas e miseráveis. É por isso que, por exemplo, o uso do termo ‘bem-estar’ na produção de alimentos de origem animal na pecuária é uma maneira distorcida e publicitária, uma vez que tentam reduzir o alto grau de sofrimento causado e não têm como objetivo promover o bem-estar e vidas significativas para os animais. Não proporcionando uma boa vida para os animais e permitindo que sejam funcionais apenas para serem produtivos, seus interesses são deixados de lado. Mesmo que os pecuaristas afirmem procurar melhorar as condições de vida e minimizar o sofrimento dos animais criados para produção de alimentos, e que existam regulamentações nesse sentido para minimizar danos, criar os animais causa sofrimento a eles, pois suas necessidades físicas e psicológicas não são atendidas ao ficarem confinados e serem mantidos em condições superlotadas e insalubres. Eles sofrem com a falta de convívio social, são submetidos a mutilações sem anestesia, no caso das fêmeas são forçadas a engravidar e têm seus filhotes retirados, e todos são destinados à morte. Os interesses fundamentais dos animais não são levados a sério, já que são vistos como produtos e meios para satisfazer desejos humanos. Ou seja, regulamentar a exploração animal, apenas para que eles sofram menos, desconsidera o interesse que os animais têm em não sofrer e em não morrer.
2. Mais de 90% dos mamíferos e aves animais criados para comida estão em fazendas industriais
A exploração animal é um problema de grande escala em todo o mundo e um dos principais aspectos dessa questão é a prevalência das fazendas industriais. Cerca de 99% dos animais de criação nos Estados Unidos são provenientes dessas instalações, que são caracterizadas por práticas intensivas e frequentemente cruéis.
Além disso, quando se amplia essa análise para o cenário global, estima-se que mais de 90% dos animais de criação em todo o mundo vivem em fazendas industriais. Essa estatística inclui aproximadamente 74% dos animais terrestres criados para consumo humano, como galinhas, porcos e bovinos, além de quase a totalidade dos peixes cultivados. Quando consideramos tanto animais terrestres quanto aquáticos, o resultado final é que aproximadamente 94% do gado é criado em fazendas industriais. Essas estatísticas alarmantes destacam a escala massiva da exploração animal nas fazendas industriais e a necessidade de repensar as práticas de criação de animais em todo o mundo, buscando alternativas mais éticas e sustentáveis.
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3. Sistemas de exploração animal extensivos também são problemáticos
Muitos se opõe a criação industrial de animais mas apoiam sistemas extensivos mas isso não é uma solução definitiva para o problema da exploração animal. Embora os sistemas de criação extensiva geralmente ofereçam mais espaço e condições de vida mais naturais em comparação com as fazendas industriais, ainda existem desafios e preocupações a serem considerados. Em sistemas extensivos, os animais podem ser mais suscetíveis a doenças, predadores e às condições climáticas adversas. Além disso, o abate ainda pode ser realizado de maneira ainda pior.
A demanda global por produtos de origem animal continua crescendo, o que pressiona os sistemas de criação extensiva a intensificarem sua produção para atender a essa demanda, não sendo uma alternativa viável economicamente os sistemas ficarem menos intensivos. Portanto, embora os sistemas extensivos possam proporcionar um ambiente menos danoso para os animais em comparação com as fazendas industriais, é importante reconhecer que soluções mais abrangentes envolvem a consideração de alternativas, como o boicote do consumo de produtos de origem animal e o desenvolvimento de métodos de tecnologias alimentares mais éticas e sustentáveis que não envolvam exploração animal, pois só assim será possível deixar de causar sofrimento desnecessário e morte para os animais.
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4. A exploração animal apresenta riscos significativos tanto para a saúde humana quanto para a saúde dos próprios animais
O uso excessivo de antibióticos na pecuária é uma prática comum para promover o crescimento dos animais e prevenir doenças em ambientes superlotados. Isso tem levado ao desenvolvimento de resistência antimicrobiana, uma ameaça crescente à saúde humana. A resistência a antibióticos pode tornar as infecções humanas mais difíceis de tratar, tornando os antibióticos menos eficazes. Muitas pandemias recentes, como a gripe aviária e a gripe suína, têm origem em animais de criação. As condições de superlotação e estresse em fazendas industriais podem criar um ambiente propício para a disseminação de doenças zoonóticas, que podem ser transmitidas de animais para humanos e criar um caos global. O consumo de produtos de origem animal em excesso está associado a vários riscos à saúde humana. Dietas ricas em carne estão ligadas ao aumento do risco de câncer, doenças cardiovasculares e diabetes. A alta ingestão de gorduras saturadas e o consumo de produtos processados podem contribuir para essas condições de saúde. Os próprios animais de criação frequentemente sofrem de condições de vida precárias, estresse, doenças e lesões. Isso não apenas causa sofrimento desnecessário para os animais, mas também pode levar a problemas de saúde animal, incluindo surtos de doenças.
5. Criar mamíferos e aves em larga escala é uma forma ineficiente de alimentar humanos e contribui para a insegurança alimentar global
A taxa de conversão alimentar na criação de animais é considerada baixa dadas as alternativas disponíveis e tecnologias promissoras. A alimentação de animais de fazenda com grãos (como soja e milho) é problemática afinal esse tipo de produção para a alimentação animal requer vastas extensões de terra, água e outros recursos naturais. Isso concorre com a produção de alimentos diretos para consumo humano, tornando a oferta de alimentos menos eficiente e custosa em termos de recursos. Quando os grãos e a soja são destinados à alimentação animal, uma grande quantidade de calorias e proteínas é perdida no processo. É mais eficiente cultivar grãos e leguminosas para o consumo humano direto, em vez de passá-los por animais antes de chegarem à mesa. O cultivo de grãos e soja em grande escala para a alimentação animal pode levar à degradação do solo, poluição da água e contribuir para as mudanças climáticas, o que, por sua vez, afeta a produção de alimentos em todo o mundo. O cultivo de grãos e soja para alimentação animal frequentemente leva ao desmatamento e à conversão de terras que poderiam ser usadas para culturas alimentares diretas.
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6. A exploração de animais é uma das principais causas da destruição ambiental
Todo tipo de alimento pode causar prejuízo ambiental, mas a exploração animal é considerada um dos tipos mais danosos no planeta, é por isso que a pecuária sustentável é um engano. Ao invés de resolver o problema, se tenta reduzir levemente o dano que se causa ao invés de tentar modificar a forma de produzir alimentos para práticas muito mais sustentáveis.
O desmatamento é frequentemente realizado para criar espaço para pastagens e plantações de alimentos para animais de criação. A remoção de árvores e vegetação nativa destrói habitats naturais e ameaça a biodiversidade. A produção de animais requer grandes quantidades de água para a criação de animais e o cultivo de alimentos para esses animais. Isso coloca pressão sobre os recursos hídricos, especialmente em regiões onde a água é escassa. As operações de fazendas industriais frequentemente produzem resíduos que podem contaminar rios, lagos e aquíferos, causando poluição da água. Os dejetos dos animais, ricos em nutrientes, podem levar a problemas como a proliferação de algas tóxicas e zonas mortas. O acúmulo de resíduos de animais em fazendas industriais também pode resultar na poluição do solo. Isso pode prejudicar a fertilidade do solo e a qualidade dos terrenos agrícolas. As emissões de amônia e gases de enxofre a partir de operações pecuárias podem poluir o ar e contribuir para problemas de qualidade do ar em áreas próximas. A produção de animais é uma das principais fontes de emissões de gases de efeito estufa, incluindo metano e óxido nitroso. Esses gases contribuem significativamente para o aquecimento global e as mudanças climáticas.
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- Pecuária
- O custo ambiental da pecuária
- A produção de alimentos é responsável por um quarto das emissões mundiais de gases de efeito estufa
- Emissões por setor
7. A exploração de animais também prejudica animais incomuns
A exploração animal para alimentação não se limita apenas a animais de fazenda tradicionais, como vacas, galinhas, porcos e ovelhas. Muitas outras espécies de animais, incluindo jacarés, polvos e insetos, também são exploradas em diferentes indústrias, e a questão da senciência desses animais se torna relevante. A compreensão da senciência e do bem-estar de animais não tradicionais é um tópico em evolução na ciência e na ética. todos os animais, independentemente de sua espécie, são indivíduos que podem experimentar sensações, emoções e dor. Portanto, a exploração de qualquer animal, seja um mamífero, ave, réptil, polvo ou inseto, pode causar sofrimento e impactar negativamente o bem-estar desses seres sencientes. Isso destaca a importância da conscientização e da consideração ética ao lidar com animais em todas as indústrias, independentemente de seu tamanho.
8. São explorados e mortos diretamente entre 70 e 92 bilhões de mamíferos e aves para consumo humano no ano
O número de entre 70 e 92 bilhões de mamíferos e aves explorados e mortos anualmente para consumo humano é impressionante e ilustra a escala massiva da exploração animal na indústria de alimentos. Isso inclui animais como galinhas, porcos, bovinos e outros animais de fazenda criados para a produção de carne, leite e ovos.
- Estatísticas e gráficos globais de abate de animais
- 92,2 bilhões de animais são usados e mortos todos os anos para alimentação
- Quantos animais são criados em criação industrial?
- 100 bilhões de animais são abatidos para obter carne todos os anos – mas a pecuária não é comentada no discurso climático
9. São explorados e mortos diretamente entre 8 e 70,1 trilhões de peixes e animais aquáticos para consumo no ano
Os números de 8 e 70 trilhões de peixes e animais aquáticos explorados e mortos anualmente refletem a escala massiva da exploração dessas criaturas aquáticas. Esta exploração engloba não apenas peixes, mas também outros animais aquáticos, como crustáceos, moluscos e cefalópodes e decápodes.
- Estimativas de contagem de peixes do número de indivíduos mortos na produção pesqueira relatada pela FAO
- Camarão: Os animais mais comumente usados e mortos para produção de alimentos
10. São explorados e mortos diretamente entre 8,4 e 26 trilhões de insetos para consumo no ano
A exploração e morte de entre 8,4 e 26 trilhões de insetos a cada ano é uma indicação do impacto significativo que a atividade humana tem sobre a população de insetos em todo o mundo. Esses números incluem uma variedade de insetos usados em diversas indústrias e finalidades como para alimentos diretos ou para outros usos de consumo como é o caso das abelhas, cochonilhas e bichos-da-seda.
- Insetos criados para alimentação humana e animal — escala global, práticas e políticas
- Bem-estar gerenciado das abelhas: problemas e possíveis intervenções
- Produção de seda: escala global e questões de bem-estar animal
- Produção global de cochonilha: escala, preocupações com o bem-estar e potenciais intervenções
- A situação dos insetos: o quão importante é essa questão?
| Estimativa Mínima | Estimativa Máxima | Média | Média simplificada | O assassinato de humanos representa | |
| Humanos mortos por humanos | – | – | 478165 | 478 mil | – |
| Mamíferos e aves mortos por humanos | 70000000000 | 9200000000 | 81000000000 | 81 bilhões | 0,00058% (assassinato mamíferos/aves) |
| Peixes e outros animais aquáticos* mortos por humanos | 1500000000000 | 4100000000000 | 2800000000000 | 2,8 trilhões | 0,000017 % (assassinato peixes/animais aquáticos) |
| Insetos mortos por humanos | 8400000000000 | 26000000000000 | 17200000000000 | 17 trilhões | 0,000003 % (assassinato de insetos) |
| Camarões mortos por humanos | 6500000000000 | 6600000000000 | 25000000000000 | 25 trilhões | 0,0000019% (assassinato de camarões) |
- A maioria dos animais vivem em condições piores que a maioria dos humanos
- A maioria dos animais são explorados, vivem em condições miseráveis e são mortos prematuramente
- A maioria dos animais são discriminados e desprotegidos por leis enquanto indivíduos
Os números de animais de outras espécies que são prejudicados intencionalmente pelos humanos é gigantesco, mas há diversos viéses que dificultam que nos importemos com eles. A falta de uma visão imparcial e compassiva e a incapacidade de enxergar o tamanho do problema faz com que a exploração continue, mesmo causando sofrimento desnecessário e morte. Esse problema catastrófico é negligenciado mas pode ter solução, para isso devemos ter uma mudança no comportamento individual, empresarial e estatal, para que consigamos superar essa catástrofe moral baseada em uma discriminação injusta com os indivíduos de outras espécies.
Fontes (clique aqui para expandir)
| Humanos mortos por humanos | https://ourworldindata.org/grapher/annual-number-of-deaths-by-cause | |||
| Mamíferos e aves mortos por humanos | https://faunalytics.org/global-animal-slaughter-statistics-and-charts/ | https://ourworldindata.org/how-many-animals-are-factory-farmed | ||
| Peixes e outros animais aquáticos mortos por humanos | http://fishcount.org.uk/studydatascreens/2016/fishcount_estimates_list.php | |||
| Insetos mortos por humanos | https://rethinkpriorities.org/publications/insects-raised-for-food-and-feed | https://rethinkpriorities.org/publications/managed-honey-bee-welfare-problems-and-potential-interventions | https://rethinkpriorities.org/publications/silk-production | https://osf.io/t57w2/ |
| (*)Camarões mortos por humanos | https://forum.effectivealtruism.org/posts/Fhoq7tP9LYPqaJDxx/shrimp-the-animals-most-commonly-used-and-killed-for-food |





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