O Brasil consolidou-se como o maior exportador mundial de carne bovina e uma potência crescente no setor suíno. Em 2024, o país comercializou mais de 1,8 milhão de toneladas de carne bovina para mais de 150 mercados globalmente, enquanto a produção e exportação de suínos também alcançaram patamares inéditos, impulsionadas pela demanda asiática e europeia. Contudo, por trás dos números expressivos e da melhora econômica, permanece uma realidade pouco visível ao consumidor final.

As fotografias documentadas por Vincenzo Ricci, da ONG We Animals, feitas para a World Animal Protection, e publicadas em novembro de 2025, expõem o cotidiano por trás dessas estatísticas: vacas leiteiras confinadas em instalações precárias e insalubres, animais visivelmente debilitados, e suínos cobertos de sujeira com lesões cutâneas onde antes havia marcações de identificação. Em um recente registro fotográfico, eles revelaram condições sanitárias e estruturais inadequadas em propriedades de pequeno e médio porte que abastecem grandes cooperativas e frigoríficos multinacionais.

Durante a investigação, um trabalhador relatou a Ricci gerenciar três galpões sem auxílio, alimentando os animais manualmente devido à ausência de automação, sem folgas há anos. A recorrência dessas cenas sugere não se tratar de desvios pontuais, mas de uma questão sistêmica do setor produtivo. Os dados da própria indústria evidenciam essa contradição: enquanto os volumes de exportação atingem recordes sucessivos, auditorias independentes demonstram que os compromissos de bem-estar animal assumidos por varejistas e processadores permanecem majoritariamente descumpridos.
As condições de confinamento intensivo, por si só prejudiciais a animais que necessitam de espaço e ambiente adequado, são agravadas pela má higiene e superlotação. Esse cenário propicia a proliferação de doenças e o uso indiscriminado de antibióticos, comprometendo ainda mais a saúde e o bem-estar dos animais – e indiretamente dos humanos.
Diante dessa realidade sistêmica de sofrimento animal documentada na produção industrial de carne, surge uma questão fundamental: há alternativa ética viável a esse modelo? As evidências apresentadas demonstram que a exploração animal em escala industrial é intrinsecamente incompatível com o bem-estar dos seres sencientes envolvidos. Não se trata apenas de “melhorar condições” — o próprio conceito de criar, confinar e abater bilhões de animais anualmente para consumo coloca desafios éticos incontornáveis.

A opção mais coerente com valores de compaixão e respeito à vida é a eliminação do consumo de produtos de origem animal. Atualmente, existem alternativas acessíveis que dispensam a exploração e o sofrimento de animais, tanto na alimentação, como para outras categorias de produtos provindos de animais. Reavaliar nossos hábitos de consumo não é apenas uma questão de consciência individual, mas uma escolha individual e coletiva diante das evidências que não podem mais ser ignoradas.
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