Existe veganismo para ricos e para classe média? Existe. Mas também existe o veganismo acessível, para quem só pode – ou deseja – gastar pouco
Com risco de um colapso ambiental e diante da exigência de um tratamento ético com os animais, o mundo têm cada vez mais visto o debate sobre a mudança dos hábitos de consumo. Por causa do grande impacto da exploração animal a Greenpeace e a WWF, as maiores ONGs ambientalistas do mundo, têm ressaltado a necessidade da mudança no sistema alimentar e a redução do consumo de produtos de origem animal, algo endossado também pela ONU e pelo FMI.
O modo de vida no qual as pessoas evitam produtos vindos da exploração animal têm crescido bastante, no Brasil o vegetarianismo cresceu 6% nos últimos 6 anos, atingindo cerca de 30 milhões de habitantes. A mudança também se reflete nas empresas e em seus produtos, restaurantes tem colocado em seus cardápios opções veganas e produtos industrializados veganos tem brotado nas prateleiras dos mercados, por isso é uma tendência que os fabricantes tornem eles cada vez mais acessíveis.
Muitas foodtechs começaram a investir nas sustentáveis ‘proteínas alternativas’ e crescem rapidamente como é o caso das famosas Impossible Foods, Beyond Meat e Memphis Meats nos EUA e no Brasil da Futuro Burguer e da Behind the Foods. Para não ficarem para trás, grandes empresas baseadas na pecuária começaram a mudar e também a oferecer produtos à base de plantas, como Mc Donald’s, Burguer King, Tyson Foods, JBS e Marfrig. Além disso, diversas pesquisas mostram que produtos alternativos ao uso de animais devem assumir o controle de uma grande fatia do mercado nas próximas décadas.
Já o movimento vegano que luta contra toda exploração animal ainda é uma minoria que atinge a marca de 3% em países como Estados Unidos e Brasil e sofre com muita desinformação e preconceito. Ter essa visão contra à crueldade animal é uma escolha mais ética e ecológica, mas ainda é comum a alegação que isso demanda uma prática difícil e cara. Muitas das empresas que estão entrando no mercado oferecem produtos à base de plantas com certa fetichização que encarece as mercadorias, o que fortalece a perspectiva do veganismo ser como algo inacessível e feito para a elite social.
Apesar dessa visão elitizada do movimento vegano, há quem lute para mostrar que o veganismo não precisa custar caro, que pode ser popular e acessível e que não é preciso apostar em produtos industrializados caros. Os adeptos do veganismo acessível ensinam a comprar – e a fazer – produtos e pratos baratos. Alguns deles inclusive são moradores da periferia e provam que é possível viver o veganismo até mesmo nestes lugares. Esta vertente que visa popularizar ainda mais o veganismo prova que, ao contrário do que muitas pessoas pensam, para ser vegano não é preciso ser rico, nem mesmo de classe média.
O veganismo acessível e popular cada vez mais está sendo atrelado ao consumo de produtos orgânicos, ao apoio dos pequenos produtores e ao consumo de produtos locais para redução do impacto ambiental, apesar disso, estas exigências não são intrinsecamente ligadas ao veganismo, há também os veganos que apostam no pragmatismo e na tecnologia para espalhar o veganismo mundo afora.
Os influenciadores do veganismo acessível
O veganismo acessível evita advogar por industrializados de marcas multinacionais que tenham relação com exploração animal, ele recorre à simplicidade, afinal para ser vegano não é necessário comprar um pote com 250 de maionese à base de plantas que custa 10 reais. Apesar do sabor idêntico ao de origem animal – e ter mérito pelo apelo à memória afetiva – o produto não é barato se comparado ao tradicional ou à uma maionese vegana caseira, além de que ninguém precisa comer produtos industrializados caros para ser vegano.
Nadando contra a corrente das grandes indústrias, os adeptos desta vertente lembram diariamente que a nossa base alimentar não é fundamentada na carne e e que há uma infinidade de opções que podemos encontrar nas feiras ou mesmo nos mercados para montar um prato barato e saudável: verduras, legumes, frutas, feijões, grãos, cereais, sementes, nozes, castanhas, amêndoas, cogumelos. Para nossa sorte, o Brasil é um país tropical e têm muitos destes itens bem baratos. No mundo dos cosméticos – e na moda – não é diferente, é possível comprar produtos acessíveis ou até fazê-los em casa.
São vários os ativistas que advogam pelo veganismo simples e acessível no Brasil e ajudam a desmistificar o assunto, confira abaixo a lista com alguns dos influenciadores:
@veganoperiferico por Leonardo e Eduardo Santos
@thallitaxavier por Thallita Flor
@nyleferrari por Nyle Ferrari
@veganodequebrada
@vegana.bacana por Tayná Mota
@logoeu_veganapobre por Caroline Soares
@vegana.raiz por Carolina
@virandovegana por Bruna Matos
@vegetarianos.online
@sapavegana por Luciene Santos
@comidasaudavelpratodos por Juliana Gomes
@veganismosimples por Lisandra Seberino
@fogaoveg
@adolescentevegana por Maria
@vegana.semgrana por Carla Candace
@samantaluz por Samanta Luz
@perifavegana
O veganismo inacessível
Apesar do veganismo ser acessível há alguns contratempos. Um dos fatores da grande expansão do veganismo recentemente foi a internet, a busca no Google pelo termo aumentou muito nos últimos anos, mas de fato ainda é um privilégio o poder de buscar informação. No Brasil 48 milhões de pessoas nunca ficou online, o equivalente a 23% da população, já no mundo metade das pessoas não têm acesso a web. Isso quer dizer que mesmo o veganismo popular teria que ser feito de forma missionária em outras culturas e lugares sem a internet caso queira vingar, algo inviável, já que o veganismo atinge a marca de 3% da população em países como Estados Unidos e Brasil.
É importante entender que há privilégios até mesmo para a mudança de hábitos. Para que uma pessoa mude suas práticas ela precisa poder pensar nas consequências financeiras e em sua saúde, por isso replanejar o consumo e as refeições para garantir uma vida de qualidade nem sempre é fácil. Em lugares onde há subsistência ou extrema pobreza isso está longe de existir. O veganismo é uma escolha mais ética e na prática pode ser mais barato e bastante saudável, mas levar esta informação ainda é algo difícil e levará algum tempo para ser viável para todos. E apesar de ainda haver muita gente extremamente pobre isso não é uma boa desculpa para não se tornar vegano fora destes lugares, os animais e o planeta agradecem.
Alimentação Animal, esta sim, é muito cara para os animais, porque pagam o preço da própria vida, quando matam eles. Nada que se compare ao custo elevado de uma existência, não importa a espécie, por isso nenhum ser vivo quer morrer. Essa constatação, por si só, já deveria ter tornando o Planeta Vegano, caso humanos fossem os racionais que ainda não são e os superiores que estão, a anos luz, de refletir. No entanto poderíamos, com algum mínimo esforço da vontade, ser menos maus, se alguma empatia básica pela dor do outro nos impedisse de matá-los para comer. Algum sentimento elementar parecido com aquele que tem um pai pelo seu filho ou um avô pelo seu neto, nos poderia situar a nós, humanos, num patamar acima do primitivismo e da barbárie, onde nos achamos, quando, indiferentes e insensíveis ao sofrimento dos animais, não nos importamos em serví-los nas refeições, porque ainda somos maus, apesar do sinal da cruz que norteia nossos passos ou pelo menos deveria.
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